03/06/2025
Muitos profissionais começam a inovar sem nem perceber. Esse é o caso de Lucas Fortunato, Coordenador de Inovação Aberta na RD Saúde. Ele iniciou sua carreira como estagiário no Banco Itaú e, só anos depois, percebeu que a automatização de tarefas para otimizar processos já era, na prática, uma forma de inovar.
“Melhorar processos do dia a dia já é uma forma de inovar, mas quase ninguém fala sobre isso. Por isso, durante muito tempo eu não achei que estivesse fazendo algo inovador. Mas, pelo contrário, desde muito jovem eu gostava de me atentar e buscar soluções que facilitassem minhas tarefas”.
No WaM Talks de hoje, Lucas conta um pouco sobre essa percepção, os principais desafio de inovar, projetos de sucesso e as tendências do momento que já estão batendo à porta. Além da importância de monitorar o mercado e buscar parcerias. Confira!
“Como analista estratégico na Copa Energia, eu sempre busquei oportunidades de melhoria. Conversei com o meu chefe para tirar do papel alguns projetos, já que eu olhava ao meu redor e pensava: ‘o que posso melhorar aqui?’. Foi assim que substituímos os telefones fixos por telefones IP, o que gerou uma economia de quase 1 milhão de reais por ano para a empresa”.
Lucas também substituiu um sistema de reembolso de viagens que funcionava por e-mail por um aplicativo, foi conquistando cada vez mais autonomia para sugerir ideias e colocá-las em prática. Ficou conhecido por sua proatividade em buscar melhorias em diversas áreas e atribuiu seu início na inovação a essa busca constante por soluções e a inquietação com o status quo.
Fui ganhando visibilidade por conta disso, cresci dentro da empresa e comecei a estruturar a área de inovação. Depois chegou um gerente com mais experiência, e as coisas foram sendo construídas aos poucos. Precisei conquistar a confiança dele e mostrar que estava ali para somar. Aliás, esse é um problema comum nas organizações: líderes mais experientes, às vezes, olham com desconfiança para quem está começando. Mas não deveria ser assim, todo mundo pode ajudar, independentemente da idade, experiência ou área de atuação”, pontua ele.
Apesar dos desafios, Lucas relembra dessa época com bastante carinho. Foi nesse período que ele realmente entendeu o que era cultura de inovação. Ele aprendeu sobre metodologias, participou de grandes eventos e tirou do papel projetos que começaram a ganhar cada vez mais escopo.
“A área ganhou um nome, mais relevância e apoio. Um dos últimos projetos que toquei por lá foi um programa de logística que usava revendedores de gás para fazer entregas de última milha no e-commerce, gerando receita adicional para a empresa e os revendedores. Enfim, foi um período muito importante na minha vida”.
Após seis anos na Copa, Lucas seguiu para a RD Saúde, onde atuou nas áreas de cultura e posicionamento. Lá, contribuiu para o desenvolvimento de vário projetos de empreendedorismo e também na produção de eventos proprietários.
“Esse foi só um resumo de tudo que fui aprendendo na prática, com os projetos, com as pessoas e com as empresas com quem interagi: benchmarks, pilotos em conjunto, participação de eventos, hubs…Tudo isso influenciou para esse novo olhar sobre inovação. Sempre foi algo que me atraiu e, que, de alguma forma, eu sempre estive envolvido”.
Como nem tudo são flores, os desafios também apareceram, e Lucas destaca dois principais. Primeiramente, a pressão da alta liderança por resultados imediatos em inovação. Segundamente, a sobrecarga do dia a dia, que acaba consumindo o tempo e o foco desses líderes.
“Muitas vezes, inovar envolve múltiplos projetos, com a maioria falhando e pouco tendo sucesso. Nesse cenário, a alta liderança, dependendo do estado financeiro da empresa e do seu apetite ao risco, pode começar a exigir um número maior de projetos bem-sucedidos. Isso compromete a autonomia, reduz a ousadia na experimentação e limita a abertura para ideias e conversas. Por isso, priorizar projetos e fazer escolhas mais criteriosas se torna essencial. Traz assertividade, mesmo que, no começo, você perca um pouco da essência da inovação, mas só até conquistar a confiança e mostrar seu verdadeiro valor”.
E completa:
“Se a alta liderança não estiver realmente engajada com a inovação, os projetos acabam ficando em segundo plano. A ausência de uma meta clara, vinda de cima, faz com que a inovação seja relegada, especialmente quando não existem objetivos definidos para cada gerente ou área. Sem metas, a inovação é adiada indefinidamente”.
Entre os diversos tipos de inovação, Lucas destaca a inovação incremental como uma de suas preferidas. Principalmente, para empresas que estão começando ou que enfrentam ou já enfrentaram desafios como os mencionados anteriormente.
A inovação incremental consiste em aprimorar algo que já existe. É um conjunto de ações voltadas a melhorar ou agregar valor aos processos, produtos e serviços dentro da organização. “Ou seja, é muito importante mostrar que essa inovação não é algo complexo ou restrito a grandes projetos, mas sim um processo que envolve pensar fora da caixa e buscar soluções internamente”.
Com relação aos projetos, Lucas destaca dois que tiveram resultados significativos: a implementação de um formulário de contratação customizado, que se tornou padrão na RD; e o uso de inteligência artificial para gerar imagens de produtos, o que reduziu custos e tempo de criação de conteúdo para o site e o app.
“Ano passado implementamos um formulário customizado da startup Mindsight para contratação de farmacêuticos. Este formulário avalia o perfil cultural dos candidatos, e aqueles que se encaixam são contratados. O processo se tornou padrão na RD e aqueles que passaram pelo teste tiveram promoções mais rápidas ou melhor desempenho na empresa”.
Lucas aponta a inteligência artificial como uma tendência dominante dos últimos anos e que deve continuar ganhando força nos próximos: “Por exemplo, estamos treinando uma IA para gerar imagens de embalagens de medicamentos, de forma mais rápida e barata, eliminando a necessidade de fotoshoots completos para cada novo lançamento. É um projeto que ainda está em fase piloto, mas já demonstra resultados positivos”
Outro exemplo compartilhado por Lucas é a estratégia de IA que envolve o desenvolvimento de um LLM (Large Language Model) próprio. O LLM utiliza servidores específicos para evitar alucinações e garantir o uso exclusivo de dados internos da empresa. “Estamos contratando servidores específicos para IA, justamente para evitar o uso de dados externos, e tem funcionado muito bem. Por isso, acompanhar o mercado e buscar parcerias com empresas de IA tem sido tão importante”.
Por fim, Lucas divide uma dica essencial para as empresas que desejam investir em inovação. Ele recomenda começar com um modelo mais centralizado e com uma equipe enxuta responsável por disseminar a cultura inovadora, para, só depois, descentralizar projetos e responsabilidades.
“O sucesso da área de inovação só é real quando ela se torna ‘desnecessária’, porque a inovação já está integrada a todas as áreas da empresa”.