05/05/2025
Em muitas empresas, a inovação tem origem em iniciativas menores, mas com o passar do tempo, revela o seu verdadeiro potencial e relevância. É principalmente sobre isso que Fabiana Rorato, que atuou por quase 10 anos como Gerente de Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual na Sabesp, nos conta na edição deste mês do WaM Talks.
Ela compartilha sua trajetória profissional ao longo desses 28 anos de empresa, os desafios e oportunidades de inovação, além dos projetos que contribuíram para que a Sabesp fosse reconhecida como a 11ª organização mais inovadora do Brasil em 2024, segundo o Prêmio Valor Inovação Brasil.
“Entrei na Sabesp em 1997, e comecei na área de planejamento estratégico, onde eu tinha essa visão mais ampla do todo e conhecia os processos de forma mais sistêmica. Por conta disso, no ano de 2015, no final da pior crise hídrica da história de São Paulo nos últimos 80 anos, eu fui convidada para trabalhar como gerente de inovação tecnológica e propriedade intelectual”, inicia ela.
Ao assumir esse novo papel, Fabiana percebeu que a área estava, principalmente, focada na resolução de problemas pontuais. Por isso, a presença de alguém com uma visão sistêmica do negócio foi crucial para impulsionar seu desenvolvimento e crescimento.
“De certo modo, foi um desafio começar a olhar para inovação nessa época. Quando você vai pros papers, quase tudo é focado em produto. Aí você precisa criar indicadores de inovação, fazer benchmarking com outras empresas… E, de novo, tudo gira em torno de produtos. Só que estávamos em uma empresa de serviços, e isso trazia um novo desafio. Além de haver uma grande necessidade de mensurar os resultados, algo que ainda era bem carente”, explica.
Para Fabiana, a superintendente da área apoiou diretamente, mostrando abertura a novas ideias. Isso permitiu o desenvolvimento de um novo modelo de negócio. “Como o setor de saneamento ainda está muito atrás de outros setores quando se trata de inovação, isso acabou sendo positivo. A longo prazo, nos tornamos referência para outras empresas”.
Fabiana relata que começar a mensurar os resultados das entregas dos projetos foi fundamental para demonstrar o retorno dos investimentos. Além disso, muitas outras ações ajudaram a construir o reconhecimento que a Sabesp conquistou ao longo dos anos.
“Passamos a ter uma estrutura mais organizada para lidar com a inovação, com uma carteira de projetos robusta, o que permitiu a busca pelo fomento e por recursos reembolsáveis e não reembolsáveis. A Sabesp se tornou visível para grandes empresas e instituições internacionais, atraindo financiamentos e parcerias inovadores. Sem contar a criação de uma plataforma para integrar atores da cadeia de inovação, como startups, universidades e empresas de médio e grande porte, facilitando a comunicação e a busca por soluções”.
Além de ser essencial para atender às demandas do presente e do futuro das próximas gerações, a sustentabilidade, para Fabiana, também pode impulsionar a inovação, gerar retorno financeiro e fortalecer a imagem das instituições.
“Na Sabesp, nosso objetivo é operar nossas plantas e sistemas de forma inteligente, utilizando IoT, transformamos resíduos em produtos, gerindo nossos ativos de forma otimizada. Um exemplo disso foi o projeto de purificação de biogás e biometano em Franca, que mostrou como conseguimos enxergar as estações de tratamento de esgoto como indústrias e gerar soluções sustentáveis, aplicando o conceito de economia circular”.
E continua:
“Sem contar que fomos a primeira empresa no Brasil a implementar o reuso de água e biometano para esgoto. Também implantamos os Sistemas de geração de energia fotovoltaica nos espaços disponíveis em nossas estações de tratamento de esgoto. E o Sistema de Interligação de Água da Bacia do Paraíba do Sul, que eu costumo chamar de ‘meu filhote’ e que até hoje me enche de orgulho!”.
O projeto de Interligação de Água da Bacia do Paraíba do Sul (Jaguari–Atibainha) foi desenvolvido para reforçar o sistema Cantareira e garantir o abastecimento da região metropolitana de São Paulo. A água do rio também irriga plantações, gera energia e dilui esgotos.
“Inicialmente, ele foi muito criticado, mas conseguimos mostrar sua importância ao demonstrar que ele seria crucial para evitar uma perda de receita de 3 bilhões de reais em caso de uma nova crise hídrica nos anos de 2020-21”.
Ou seja, a nomeação da Sabesp como uma das empresas mais inovadoras do Brasil foi resultado da dedicação de todos que tiraram esses projetos do papel e mostraram que, com inovação e sustentabilidade, é possível realizar feitos que impactam toda uma cadeia. Para Fabiana, essa foi uma grande conquista, tanto para a companhia quanto para a sua trajetória profissional.
Para alcançar o primeiro lugar no ranking setorial de infraestrutura e a 11ª posição no ranking geral das empresas mais inovadoras de 2024, segundo o Prêmio Valor Inovação Brasil, foi preciso um esforço diário que começou lá em 2021.
“Em 2023, chegamos ao segundo lugar, mas percebemos que não estávamos mensurando nosso resultados da inovação corretamente. Foi então que a equipe passou a analisar os projetos desde 2015, avaliando o retorno de cada um, o que levou a Sabesp ao primeiro lugar no setor e ao 11º no ranking geral. Um resultado que trouxe celebração, mas também exigiu muito esforço.”
Realizado em 2018, o pitch de inovação é uma das iniciativas que Fabiana destaca como fundamentais para ampliar a inovação dentro da Sabesp e envolver todas as áreas da corporação. A experiência foi marcante: pessoas físicas, startups e empresas de todos os portes enviaram mais de 580 ideias. E, apesar dos desafios, que trouxeram alguns aprendizados, o pitch gerou diversos benefícios:
“O Pitch Sabesp abriu a mente da equipe para o imenso potencial da inovação no setor de saneamento. Destacou a importância da inovação aberta como caminho para encontrar soluções que muitas vezes nem imaginamos, capazes não só de resolver problemas complexos, mas também de gerar novas receitas acessórias. Reforçou ainda a relevância de buscar soluções específicas para os desafios do setor, valorizando a integração entre todos os atores da cadeia de inovação — universidades, startups e empresas de médio e grande porte — como forma de acelerar impactos positivos e sustentáveis.”
Além disso, o pitch resultou em projetos importantes, como a Plataforma Água- Viva. Criada para integrar atores da cadeia de inovação, com dois módulos: um interno, voltado para os funcionários da Sabesp, e outro externo, direcionado ao mercado. Também deu origem a um acordo de cooperação com a FAPESP, voltado para pesquisa aplicada e desenvolvimento, com recursos destinados a universidades e startups.
“Como mencionei, começamos de forma simples — com iniciativas modestas, sem métricas claras ou capacidade de antecipar crises. Mas, com persistência e confiança no poder transformador da inovação, fomos capazes de revelar todo o nosso potencial e mostrar a real relevância do nosso trabalho.”
Para os próximos anos, Fabiana aposta em tendências no setor de saneamento que podem impulsionar ainda mais a inovação e gerar um impacto positivo. Uma das principais é a profissionalização da relação com startups. Segundo ela, o setor vem amadurecendo nesse aspecto, adotando metodologias que fortalecem e potencializam esse modelo de parceria.
“Já a curto prazo, acredito que as grandes empresas passarão a focar mais intensamente na universalização do saneamento, o que tende a impulsionar a inovação no setor. Isso exigirá não apenas transformar resíduos em produtos de valor, mas também operar de forma mais eficiente e inteligente, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis. Tecnologias como IoT e Inteligência Artificial terão papel fundamental nesse processo, permitindo o monitoramento em tempo real, a automação de sistemas e a tomada de decisões baseada em dados. Além disso, vejo um espaço promissor para inovações ligadas ao biometano, especialmente com os incentivos à substituição de combustíveis fósseis. Acredito – e torço muito – para que esses avanços se concretizem em breve.”